Novas anotações de supostos pagamentos trazem o nome completo do presidente da Câmara dos Deputados
O homem da mala do suposto esquema de corrupção descoberto
no Ministério da Educação (MEC) que envolve o presidente da Câmara, Arthur
Lira, assumiu que o principal assessor do deputado o procurou para criar um
mecanismo de sonegação fiscal e geração de dinheiro vivo. O Metrópoles teve
acesso, em primeira mão, ao vídeo do depoimento, prestado à Polícia Federal
(PF)
Pedro Magno Salomão, flagrado pelos investigadores fazendo
entregas de dinheiro em Brasília e Alagoas, terra de Lira, prestou depoimento
em 1º de junho deste ano, dia em que foi preso na Operação Hefesto.
Segundo ele, Luciano Cavalcante, principal assessor do presidente da Câmara há anos, procurou seu escritório de contabilidade trazido por um cliente que já costumava usar o serviço de aluguel de firmas – forma de receber e transferir recursos para terceiros, driblando a cobrança de impostos.
De acordo com o relato de Salomão, Cavalcante disse: “Pedro,
preciso da sua ajuda. Preciso receber serviços, preciso receber algumas coisas
e fica pesado para mim. Você me ajuda?”. O termo “pesado”, explicou o homem da
mala aos policiais, era uma referência à carga tributária. “Eu recebia os
recursos dos clientes do Luciano, que ele indicava como cliente. Recebia aquele
recurso, fazia alguns pagamentos a pedido dele e, quando ele queria valores em
espécie, ele me pedia e eu provisionava.”
Salomão disse ainda aos policiais que o esquema começou a funcionar em novembro do ano passado e cresceu rapidamente. E que, em razão da grande demanda, o atendimento a Luciano, o novo cliente, passou a tomar 99% de seu tempo.
O Homem da mala afirmou que o esquema funcionava assim: empresas variadas, ligadas a Luciano, transferiam dinheiro para contas de três firmas que ele controla.
Após a cobrança de uma taxa de 5% a 7%, o contador fazia pagamentos e era orientado, sempre por Luciano, a ir até agências bancárias sacar valores em espécie.
Posteriormente, por ordem do assessor de
Lira, as cédulas eram entregues pessoalmente. A investigação, que apura
desvios de pelo menos R$ 8 milhões em kits de robótica para escolas públicas de
Alagoas, já descobriu que, após superfaturar os produtos, fornecedores dos
equipamentos enviavam, via sistema bancário, a sobra dos valores dos contratos
para empresas ligadas ao homem da mala.
Elos em Maceió
Segundo Salomão, a certa altura surgiu a necessidade de uma
viagem para gerar dinheiro vivo fora de Brasília, em Maceió, em Alagoas —
Estado de Luciano Cavalcante e do presidente da Câmara. Luciano teria dito:
“Preciso de ajuda lá em Maceió. Tem problema você me entregar isso lá?”.
Com a missão dada, Pedro embarcou com a mulher, também
investigada pela PF, usou um carro que o assessor disponibilizou e passou a
fazer saques e entregas.
No depoimento à PF, no entanto, ele alegou que não
conseguiria identificar os destinatários dos recursos. Disse que apenas recebia
orientações de Luciano para entregar para “fulano”.
Anotações inéditas com nome “Arthur Lira”
A PF, ao encontrar indícios da conexão como parlamentar no
dia na busca e apreensão, já se preparava para submeter o processo para
Brasília. Em 21 de junho, o delegado Thiago Neves apresentou à Justiça Federal
de Alagoas um pedido para remeter o caso para Brasília. Nesse documento, ele
elencou as provas obtidas até então.
Em um caderno encontrado com o motorista Wanderson no dia da
prisão, há uma série de anotações suspeitas que indicam pagamentos e repasses
de dinheiro. Algumas têm o nome do presidente por inteiro: Arthur Lira. As
inscrições, feitas a mão, supostamente registram despesas pagas pelo motorista
de Luciano (veja abaixo).
Há menções ainda a “RO”, que a PF diz ser uma “possível
referência à Residência Oficial (da Câmara)”, “Alvaro Lira”, “possivelmente o
filho de Arthur Lira” e ao pai do presidente da Câmara, Benedito Lira.
Segundo os investigadores, as provas “indicam que ele (o motorista) e Luciano Cavalcante tinham de alguma forma controle sobre o pagamento de despesas pessoais de Arthur Lira e de seus familiares”
Segundo a PF, tais gastos eram cobertos exatamente com o
dinheiro gerado pelo sistema do homem da mala, criado por Luciano, o principal
assessor de Lira.